sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A angustiante espera de ti




* by Silvia Mendonça

Desde que ouvi tua voz,
tão esperada,
em um momento em que não pude te escutar,
meu coração, de pequeno,
tomou forma de cadeado.
Só teu retorno-chave-blues poderia abrí-lo.

No entanto,
agonizei,
sem contrações,
ante o teu silêncio.

Entre vertigens,
passei o dia com a interrogação carimbada no rosto,
reticenciando as ruas,
vagando do cotidiano aos pontos finais,
e daí para casa.

Queria saber: quem roubou a hora?
O sol foi de encontro aos bueiros da noite;
a noite da ansiedade dos minutos que agora conto,
no sonho/sono que protesta por ti no cansaço de dentro.

Toxina de sequer saber a quantas andas:
se dormes, se sonhas, se amas, se gozas...

Quem me dera ter o controle da vida só para relaxar,
evitar a tristeza escondida nos poros,
encolhida nas veias,
clandestina nos olhos,
luz acesa.

Restas em mim entre o amor e o silêncio,
enquanto desejo que o telefone toque,
trazendo o poema que a noite fecundasse.

Porém, é tarde!
A cidade quieta, está quieta;
mantém seu silêncio em gelados trincos,
nos corações tensos e térreos,
dependurados na ferrugem,
no prego, da parede.

Ainda em pé, sonho.
Guardando na boca o incêndio que trago no peito,
para que não queime os meus seios,
antes do definitivo beijo -- beijo à distância,
sem música ou qualquer arranjo.

Choro tua ausência dentro dos tristes e melancólicos blues,
no verde da garrafa tinto de vinho.

Tola, costurei esta manhã o silêncio que tecestes
ao vazio que deixastes.

Bem feito!
Nada mais a fazer:
já que a noite é plena,
sem teu colo;
tirarei uma estrela para dançar.

Salve o delírio!

Na madrugada de plantão dormirei sobre as lembranças.
Se acordar zonza da mal lembrada sensatez,
talvez esqueça de eclodir.

Constato, de medo: ele não ligou!
Como era aquilo de chorar por dores mal calculadas?

Bem feito!
Da próxima vez, se esta houver, te atendo,
grito aos quatro ventos que tenho fome de ti,
da paixão/emoção,
tremor de terra que abala minha inerte vida
onde finquei meus meridianos, sem bússola.

De resto,
viver,
sem ti, sem o teu toque,
é o mais lento suicídio.

Ironia,
finda em consolação,
trespassada por dor angélica.

A noite esvai-se,
espetada no peito do relógio.

Vou com ela!

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