sábado, 30 de agosto de 2008
MÃE DA SECA - MICROCONTO
Vai, menina, vai... Pega a sua trouxa de roupa e vai com a moça. Não chore! Nem lágrimas tem...não quero despedida. Só quero que seja feliz na vida. Essa vida aqui, só pra mim e seu pai, amanhã vou despachar os seus onze irmãos...
Estude, pra me escrever cartas. Peço a professora Elisa que leia pra mim.
Apertando o peito, para não demonstrar nenhum sentimento, as duas almas (de mãe e filha) choraram todos os prantos imagináveis de um mundo sofrido e sem sentido. Dava pra regar todas as plantações de um mundo sem água.
Tórrida seca, que obriga os pais, separarem-se dos filhos...
O fogo a lenha, era a sua distração. Esquecia a vida e os pensamentos ruins. A esperança, as vezes, trazia boas notícias, que depois virava decepção. O clima mudou. O céu ficou cinzento e Dona Maria gritava:
- Vai chover, Basílio, vai chover! Depois tudo se transformava na natureza. O sol acabava seu passeio e voltava para sufocar a terra. O povo entristecia...
Um dia, sob o sol que maltratava e tirava do corpo, o suor, a água que restava, o velho Apolidório, o carteiro, trazia-lhe uma carta. Ela correu pela pradaria até alcançar a escola. Professora Elisa leu para ela:
- Mãe, quando cheguei na cidade, me assustei com tanta gente! Aqui tem Igreja, vou sempre rezar e pedir por vocês. Parece que o sol daqui é menos abrasador. Estou estudando, conhecendo livros... e as máquinas esquesitas que andam...chamam-nas de carro. A noite eu converso com o luar, espero que a senhora veja daí, o que a gente conversa de cá. Sinto saudades da Na, do Né, do Zé, do Mane...de todos...da Flor...Falar na Flor, vou mandar uma flor para ela, que nunca viu uma...a mais bonita daqui. Uma formosura. Já choveu aí? Aqui chove de vez em quando...ah, mãe! Eu vi o mar! Acho que não tem água aí, por que ta todinha aqui, naquele marzão! E é azul...despeço-me agora.
Dona Maria voltou pra casa pensativa. Que raios de mar é esse, que engole toda a água e nos deixa na seca?
O chão árido nos pés de Dona Maria, rachava ainda mais, a proporção em que ela pisava. O seu coração fechado, abriu-se de dor, ao lembrar de Tácia. Anastácia, seu pedaço que se foi e deixou também seca a sua alma.
Tereza Neumann
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