domingo, 12 de outubro de 2008

ONDE ESTÁS, LÁBIO-GUME?


MARAVILHOSA SÍLVIA MENDONÇA

Sobre o lençol de linho branco,
No esquecido da noite sem lua,
Recomponho o sonho em que me amas,
Passando em soluços a dormir.

Amanheço em dolorido parto,
Estremeço em prematura luz,
Réstia dormente aquece a cama,
Em contrações de um orgasmo único.

Colecionar dores não faz sentido;
Dores que não vêm ao acaso,
Chaga exposta no ventre-fêmea,
No colo entorpercido de puta.

A quantas andam as cólicas eternas?
Na incompetência de dizer o amor?
No torpor do não-saber verdades?
No luto de enganosas mentiras?

Fios invisíveis amarram convenções,
Na tentativa, vã, de conter a libido.
Torpes gestos serpenteiam ao acaso,
Tateiam, sem sucesso, a exausta solidão.

Engulo tolices sem apetite,
Lancho orgulho vermelho-ferido;
Sorvo a raiva veneno-vivo;
Bebo a mágoa estilete-cego.

Na despedida sóbria dos sentidos,
Corre o tempo na flacidez dos dias.
Na rigidez dos medos franzo a testa,
No amor risco seu teor vivo.

E os dias se perdem...
E apanham dos olhos o amanhã....

By Silvia Mendonça

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