terça-feira, 16 de setembro de 2008

OS ESCRITORES



Pus o prato na pia, um à mais, um à menos não fazia diferença. A pia estava amontoada mesmo! A sala desarrumada, escondia o telefone que tocava. Minha cabeça estourava, ressaca de ontem...

-Quero correr daqui, pensei. Quero ver o sol, quero ver colibris. Vou sair daqui. Peguei a bolsa, bati a porta e saí. Já na saída, no rall de entrada, pisei em bosta de gato. Trouxe a sombrinha, pois o tempo cinzento, anunciava chuva. Que alento me cercava...

Fiz sinal para um táxi, não sabia pra onde ir. Indiquei a Biblioteca Central. Resolvi ler, para relaxar.

Quando entrei na sala de leitura, não acreditei no que estava vendo. Um Celeiro de Escritores Mortos. Em cada mesa, um estava sentado, lendo os escritores jovens. O silêncio era total. Entrei vagarosamente, vi Drummond, Vinícius, Bilac, Mário de Andrade, Augusto dos Anjos, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, a Portuguesa, Florbela Espanca, Castro Alves e Quintana. Sentei-me e fiquei a olhar pra todos, boquiaberta. Será que só eu estava vendo tão belo acontecimento?

- Posso sentar-me em qualquer mesa? Perguntei ao secretário.

- Se você quiser dividi-la com quem já está sentado... pode.

Com essa resposta, percebi, que não era só eu quem os estava vendo...

Sentei-me em uma mesa vazia e pedi o livro de Clarice, "A maçã no escuro". Eu o lia compassadamente. Ora levantava a vista para ver ao meu redor, ora lia o livro. Eles continuavam absortos em suas leituras. Concentrados. Estava tão bom vê-los, que o tempo passou velozmente. Olhei o relógio, já tinha passado a hora do almoço. Corri para a porta de saída, sem antes olhar pra imagens tão magníficas. Saí... Ao chegar à porta da Biblioteca, estava chovendo torrencialmente. Procurei a sombrinha, havia deixado na sala de leitura. Voltei e tive outro surpresa. Os escritores não estavam mais lá. Só rapazes e moças, pesquisando.

Vim embora, absorta em meus pensamentos, quando um carro passou por uma poça d'água e banhou-me dos pés à cabeça com aquela água pútrida. Cheguei em casa, abri a porta e tudo estava no lugar, em perfeita ordem. Fui em direção à caixa de remédios, tomei um para alucinação, fui pra cama e dormi.

Na manhã seguinte, voltei à biblioteca. Fui até as prateleiras, ao caminhar até lá, senti que chutei algo. Era uma caneta, abaixei para pegá-la e pra minha maior surpresa, nela estava escrito: "Carlos Drummond de Andrade."

Tereza Neumann

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